Devido à vivência com organização
de empresas e implantação de sistemas de gestão,
por quase 35 anos, observo que uma parcela considerável
das pequenas e médias empresas continua adotando e
utilizando computadores comuns (desktop) como servidores de
redes.
Conclui que os principais se relacionam ao desconhecimento
técnico e à limitação de recursos
para investir. Além disso, em alguns casos, à
má orientação por parte de prestadores
de serviço de TI.
SOBRE A QUESTÃO TÉCNICA
Embora todos sejam computadores, há significativas
diferenças entre os equipamentos destinados ao uso
geral e os servidores de rede. Como têm propósitos
diferentes sua tecnologia, configuração e qualidades
são distintas.
Um computador para uso geral, um "desktop", tem
como característica principal, a sua utilização
que é feita por um único usuário de cada
vez.
É construído para ser operado por algumas horas
diárias, a maior parte do processamento e alocação
de memória é gasta em atividades isoladas, o
disco rígido é requerido apenas por uma ou duas
aplicações simultâneas e para utilizar
um sistema operacional baseado na interação
com um único usuário.
Em razão do tipo de utilização, a sua
construção e os componentes são dimensionados
para essa finalidade, tanto do ponto de vista técnico
como de custo. Neste caso, o preço pode variar muito
devido à capacidade de armazenamento, de cálculos
e processamento de imagens. São usados em jogos, projetos
de engenharia, navegação na internet, operação
de planilhas ou textos, e aplicativos em geral. Todas essas
atividades, em geral, não são críticas
ou continuas por muitas horas.
Na fabricação desse tipo de computador são
usados componentes simples, dimensionados apenas para oferecer
um excelente desempenho para um usuário único.
Se o equipamento for compartilhado com vários usuários,
devido à sua arquitetura, vai apresentar lentidão
na mesma proporção do seu compartilhamento.
Já, o equipamento projetado para servir uma rede tem
finalidade completamente diferente, sendo suas principais
características:
a) |
Funcionamento contínuo e ininterrupto,
pois, a qualquer momento um usuário pode entrar
para executar uma operação. |
b) |
Capacidade de ser rápido na resposta
ao usuário, lendo ou gravando informações. |
c) |
Capacidade de atender e executar várias
operações simultaneamente, inclusive processando
aplicativos diferentes. |
d) |
Manter o mesmo desempenho independente da
quantidade de acesso ou utilização. |
Com estas peculiaridades, o equipamento tem um funcionamento
diferente, ou seja, não se destina a um único
usuário interagindo através da interface "mouse/monitor",
mas sim, tem que atender múltiplos usuários,
distantes, e que esperam por respostas de processamento de
aplicações, consultas ou gravação
de dados, ao mesmo tempo. A rigor, o usuário do servidor
não é uma pessoa, mas sim outro computador.
Neste tipo de aplicação, esperas não
são toleradas e, para ser eficiente, o equipamento
é construído com componentes diferentes sendo,
seus principais objetivos, a capacidade de realizar múltiplos
processamentos simultâneos, receber, gravar e devolver
informações dos discos rígidos com muita
velocidade e, também, tratar os conflitos de acessos
simultâneos.
Os equipamentos, nesta classe, são construídos
com materiais de qualidade superior, resistentes a falhas
e maior durabilidade. São fabricados para terem melhor
dissipação de calor, fonte de alta qualidade,
placa de rede e processador com tecnologias diferentes para
apresentar melhor durabilidade, resistência a falhas
e alto desempenho.
Há diversos tipos de servidores oferecendo uma variada
gama de recursos, tais como, redundância de fonte de
energia, de disco rígido e de memória. Há
equipamentos que podem ser reparados ou ampliados em pleno
funcionamento e sem desligamento.
SOBRE O SISTEMA OPERACIONAL PARA REDE
O computador para ser usado como servidor de rede, já
é projetado e fabricado para trabalhar com um sistema
operacional "Server", garantindo, que o resultado
final seja superior.
Esta é uma questão técnica importante
a ser entendida. Assim como os equipamentos são diferentes,
os sistemas operacionais também o são. Para
o equipamento desktop, a Microsoft, praticamente o único
fornecedor, possui a linha Windows. (XP, 7, 8 e 10) com versões
para uso doméstico e empresarial.
Os servidores de rede utilizam um sistema operacional diferente
em todos os aspectos. Entre as várias opções,
há duas principais: Sistema "Linux", que
é um sistema aberto e praticamente gratuito, ou "Windows
Server", fornecido pela Microsoft. A característica
destes sistemas é que são apropriados para o
tipo de serviço executado pelo servidor e utilizam
os recursos do hardware, proporcionando rapidez e segurança.
A utilização de computador desktop para servidor
de rede é altamente desaconselhável, mas há
algo ainda mais reprovável, que é a utilização
de um sistema operacional destinado à desktop, como
as versões Windows XP, 7, 8 ou 10, para gerenciar um
equipamento "Servidor". Falta, a esse tipo de sistema,
algo que é fundamental: a capacidade de administrar
filas e conflitos de acesso. Quando ocorrem situações
críticas de acessos simultâneos, o sistema não
consegue "operar" e pode gerar a perda de informações,
gravação incorreta, dano em arquivos, travamento
da aplicação, entre outros prejuízos.
O sistema operacional comum, destinado à "desktop"
possui recurso de compartilhamento de arquivos, mas nada que
permita que muitos usuários operem o mesmo arquivo
ao mesmo tempo. Há uma falsa interpretação
que esse recurso é suficiente para a operação
de arquivos simultaneamente por vários usuários,
fazendo consultas e gravando ao mesmo tempo. Na eventualidade
de um conflito de acesso, o arquivo poderá ser perdido
ou gravado incorretamente.
Ter problemas graves e irrecuperáveis é apenas
uma condição estatística, sorte ou azar
e, claro, este tipo de resultado não se presta ao ambiente
empresarial.
SOBRE A QUESTÃO FINANCEIRA
Sem sombra de dúvidas, a aquisição de
um equipamento Servidor de rede exige um investimento maior
que a aquisição de um desktop. Mas, comparativamente,
é até mais barata que a aquisição
de um bom "notebook", que é um equipamento
portátil muito usado por pessoas. Um bom "notebook",
com processador i7 tem um custo superior ao preço de
um servidor com o sistema operacional já incluso.
A simples comparação de preço de um
equipamento "desktop" por um "servidor de rede"
não é correta, pois, embora sejam computadores,
possuem características distintas. O servidor terá
uma vida útil mais longa, porque possui componentes
de melhor qualidade e durabilidade, além de não
ter contato constante com usuários o que favorece sua
conservação. Podemos considerar que um servidor
tem uma vida útil de 3 a 6 vezes maior, ainda que seja
usado 24 horas todos os dias.
É obvio que o desembolso para comprar um servidor
é maior, porém, comparativamente, seu custo
poderá ser menor que uma solução inadequada.
Se imaginarmos uma pequena empresa que tenha entre 15 a 20
usuários, podemos avaliar duas opções
básicas para montar um excelente servidor de rede e
constatar que o investimento necessário não
é muito maior que adquirir um bom desktop.
Um desktop de boa marca e qualidade, com i7, 6/8GB de memória
e 1TB de HD custa em torno de R$ 2.500,00 a R$ 3.500,00. Há
opções mais baratas em lojas de eletrodomésticos,
mas não vamos levar em consideração em
razão de não serem destinadas ao uso empresarial,
devido à qualidade.
Vamos considerar dois fabricantes renomados que oferecem
"servidores" para as pequenas empresas. A DELL vende
o equipamento PowerEdge T330, com processador Intel® Xeon®
Quad Core E3-1220 v5, memória de 8GB e 1 HD de 500GB,
com 1 ano de assistência técnica no local, por
R$ 4.200,00.
A HP vende um equipamento equivalente, o Servidor HPE ML110
com processador Intel® Xeon® Quad Core E5-1603 v3,
com 8GB, HD de 1TB, com 1 ano de assistência técnica
no local, ao preço de R$ 2.800,00.
Os servidores são vendidos apenas com uma versão
do Linux que, praticamente, é gratuita. O Sistema operacional
Linux foi desenvolvido em plataforma aberta, é mantido
por uma organização sem fins lucrativos e, por
essa, razão é gratuito. Há várias
empresas que fornecem versões testadas e homologas,
a um custo muito baixo, que praticamente não acrescenta
custo ao servidor. O problema com a utilização
do Linux é a falta de técnicos especializados
e a dificuldade de operação por parte de usuários
leigos.
O sistema para servidor de rede mais usado é, sem
dúvida, o fornecido pela Microsoft mas, neste caso,
é necessário comprar a licença. A Microsoft
tem opção a partir de R$ 720,00 para o Windows
Server 2012, que permite o acesso de até 5 equipamentos.
Para licenciar 15 equipamentos ligados ao servidor, a versão
"Foundation" custa apenas R$ 1.400,00.
Para uma pequena ou média empresa, o custo total de
um bom servidor, se comparado com um bom equipamento desktop,
não chega a ser o dobro do valor. Além disso,
é um equipamento que vai durar, pelo menos de 3 a 5
vezes mais tempo.
Além disso, os equipamentos e os sistemas operacionais
são fartamente oferecidos com parcelamentos de até
12 meses. Os preços e modelos se referem a novembro/16.
SOBRE A ORIENTAÇÃO DE TÉCNICOS EM TI
É muito comum as empresas receberem orientação
para montar redes de computador sem servidor, ou com um equipamento
servindo sem as características técnicas necessárias.
Embora a grande maioria dos profissionais de TI saiba que
esse tipo de sugestão não é adequado,
acabam "pegando" e executando o serviço,
considerando apenas as condições ou limitações
impostas pelo cliente. Para não correr o risco de perder
o "serviço" por levantar questões
que exijam um desembolso maior por parte da empresa, acabam
não insistindo na solução correta.
POR QUE RAZÃO A MAIORA DAS EMPRESAS NÃO DÁ
IMPORTÂNCIA?
Operar o ambiente de informatização sem os devidos
cuidados é parte de um conjunto de riscos que a pequena
empresa assume, principalmente, por falta de cultura organizacional
e limitação de investimentos. Há muita
precariedade e desinformação no aspecto da gestão,
inclusive na gestão de seu bem imaterial mais importante
que são os dados sobre seus negócios, seus clientes,
fornecedores, disponibilidade dos estoques, valores a receber,
a pagar e, principalmente, suas oportunidades.
Muito é feito com base na "sorte". Como
os riscos são considerados pequenos, enquanto não
ocorre um fato considerado um "desastre", as coisas
permanecem como estão.
Muitas empresas, diariamente, perdem condição
de operar regularmente por dias ou semanas em razão
de panes ou perdas de suas informações mais
básicas.
Imaginar uma situação assim, de desastre, é
até muito fácil. Basta ver o que acontece quando
falta energia elétrica por algumas horas na operação
de uma empresa completamente informatizada. Tudo para, porque
ninguém tem acesso a nada.
Sobre o autor:
J. R. Cesário
Consultor com mais de 35 anos de experiência em implantação
de ERP
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